John Stott

Expor as escrituras é esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e Seu povo lhe obedeça.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A PARÁBOLA DOS FILHOS PERDIDOS E DO PAI PRÓDIGO

O texto tão famoso do evangelho de Lucas capítulo 15, é composto de três parábolas primas que possuem uma estrutura que deveria ser idêntica:
1.                  Algo é perdido
2.                  Começa uma busca
3.                  É encontrado
4.                  Existe felicidade pelo que estava perdido e foi achado
A grande chave para entendimento do texto está nos dois primeiros versos:
v.1 E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
v.2 E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles.

Não podemos perder de vista o grupo que estava assistindo a pregação, pois foi para este grupo que Jesus tinha uma mensagem. Eram 2 grupos, assim como eram 2 filhos. Este detalha vai nos dizer muito, já que, cada filho representava um grupo. Os publicano e pecadores representavam o filho mais novo. Os fariseu e publicanos, o filho mais velho. Nosso costume é ressaltar a história do mais novo, como a parte central do texto, mas, quem estava reclamando de Jesus era o segundo grupo. Jesus queria provar para eles que o que fazia estava certo, desta forma, devemos nos prender na história do filho mais velho. O mais novo e sua lida, na verdade, é uma introdução para a verdade que gostaria de apresentar para os fariseus e publicanos.
v. 11 E disse: Um certo homem tinha dois filhos;
v. 12 E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles  (ou lhes repartiu) a fazenda.
O pedido do filho mostra uma fala de respeito pelo pai, já que este pedido só faria sentido caso o pai já estivesse morto. Ele não podia pedir sua parte da herança com seu pai ainda vivo, porém, o detalhe mais importante do verso não é este, mas, que o pai repartiu a herança para os dois. Para o filho mais novo, era como se o pai estivesse morto, seu interesse estava no dinheiro da herança.

v. 17 E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
v. 18 Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti;
v.19 Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.

Aqui descobrimos qual era a intenção do mais moço ao voltar para casa. Não queria voltar a condição que encontrava-se antes. Como jornaleiro (ou trabalhador), ele teria direito a um salário. Diferente do servo, que vivia na fazenda, o trabalhador era como um funcionário autônomo que prestava serviços para o fazendeiro. Os rabinos ensinavam que existem pecados que não podem ser resolvidos com apenas um pedido de desculpa, mas, era necessário que fosse restituido o que foi perdido. O filho mais moço, já convertido, queria devolver ao pai o que ele, injustamente gastou.

v. 20 E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.

O pai da parábola começa a demonstrar sua singularidade. Ele em sua posição de patriarca, chefe do clâ, jamais deveria sair correndo ao encontro do filho. Seu amor e felicidade são demasiado grandes, ao ver a figura do filho vindo ao loge ele não se preocupa com sua condição. Vai a seu encontro pois está de volta para casa. Daí vemos sua característica como pródigo (gasta mais do que o necessário) que investe tudo para salvar.

v. 22 Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas  (sandálias) nos pés;

 A melhor roupa da casa pertencia ao próprio pai. Tinha que ser a roupa mais cara, pois era seu filho. E ele faz questão de devolver a condição de filho dando o anel da família e as sandálias (para diferenciar dos servos). Parece que posso ver o evangelho sendo descrito neste verso. Desde o momento que Deus faz uma veste com pele de cordeiro para o casal do Édem, até o momento que Ele nos oferece Sua justiça por meio de Cristo.

v. 23 E trazei o bezerro cevado(gordo) , e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;

Mais uma vez vemos o pai que gasta em favor do filho, que oferece o melhor para o que decide estar do seu lado. O bezerro gordo era o animal mais caro do rebanho. Era o que ele tinha de melhor, oferecido em favor do filho. Depois de criar todo este clima, apresentando a figura do Pai Pródigo, creio que os fariseus e escribas  podiam ver nesta figura o próprio Jesus com sua atitude de se aproximar dos pecadores e publicanos. Receber estas pessoas era um insulto para eles e sua religião. Quem sabe neste momento, em seu coração, deve ter aumentado sua confiança de que aquela atitude deveria ser reprovada. Percebe que chega o momento de Jesus explicar sua atitude? Se a parábola terminasse neste momento, eles não seriam abençoados com a explicação. Neste momento, foi criada a oportunidade de Jesus falar ao coração de cada um deles. A continuação da parábola é uma explcação para Sua atitude.

v. 25 E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças.
v. 26 E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
v. 27 E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
V. 28 Mas ele se indignou, e não queria entrar. E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos;

Agora entra em cena a figura do irmão mais velho que representava na parábola, os fariseus e publicanos.  Ele fica indignado em saber que seu pai recebe seu irmão. Isso significava (lembra-se do anel) que ele voltava a ser filho e herdeiro. Mecheu com o seu dinheiro percebe? A alegria do pai não era mais importante que seu dinheiro. Não parece que já conhecemos esta história? Sim, sua atitude é igual a do filho mais velho! A herança era mais importante que o próprio Pai. Outro detalhe do verso é que o filho não queria entrar na festa. Isso indica sua reprovação e rebeldia em relação ao pai. Seu pai também vai a seu encontro (lembra-se de como o pai sai correndo para encontrar o irmão mais novo), nos apresentando uma noção de que ambos estavam perdido. Recusar participar da festa do pai (lembra da outra parábola?) era um sinal de sua condição.
 Elisabeth Elliot conta uma história sobre os dicípulos e seu relacionamento com Jesus que pode nos ajudar muito neste ponto. Lembre-se, é uma história inventada por ela, não está na bíblia, a história é mais ou menos assim:
Certa vez Jesus iria começar uma viagem e pergunta aos discípulos se poderiam realizar a caminhada por Ele. O grupo pronto aceitou. E Jesus disse: “peguem uma pedra e me acompanhem”. Pedro pensou rápido e pegou a menor pedra que havia encontrado, “esta seria fácil de carregar” pensou. Na hora do almoço, Jesus se assentou com eles e abençoou as pedras ordenando que se transformassem em pães. Fantástico! A pedra que carregaram, sem saber, se tornou uma benção. Porém Pedro havia carregado uma pedra muito pequena. A viagem deveria continuar. Jesus fez a mesma pergunta de antes e todos aceitaram caminhar por Cristo. Pedro, agora com fome, pensa que seria melhor ele procurar a maior pedra que pudesse encontrar. Carregando com dificuldade, ele prosseguiu caminhando por seu Jesus. Quando chegou a hora de pararem para novamente comer, eles se sentaram junto a um lago. Pedro estava ancioso por sua pedra/pão. Jesus surpreende então e pede que joguem as pedras no lago. Eles não entendem muito a situação. Mas Jesus lhez faz a pergunta derradeira: “por quem eu pedi que caminhassem?”.
Pedro descobriu que estava caminhado por suas necessidades e conforto. É difícil entender que posso estar em obediência, zeloso pelas coisas de Deus, e estar fazendo tudo isto com as intenções erradas. Romanos 10:2 quando Paulo fala sobre os judeus ele diz que: “têm zelo por Deus, porém nao com entendimento”. Faltava conhecimento do pai para o filho mai velho, que representava fariseu e escribas, judeus, Paulo estava falando em Romanos sobre este mesmo grupo que estava à frente de Cristo naquele momento. Eles deveriam perguntar-se: por quem carregamos a pedra?
No início dissemos que as três parábola deveriam ser idênticas, mas porquê não são. Pense na estrutura que apresentamos acima e veja que falta uma coisa na terceira parábola. Falta alguém para buscar o filho mais novo e esta era a missão para o filho mais velho. Você pode se colocar diante da cena e perceber que esta era a obrigação dos fariseus e escribas. Jesus estava cumprindo a missão do filho mais velho, esta deveria ser a missão desse grupo. Jesus colocava diante deles sua obrigação. Talvez seja por isto que a parábola não tem uma conclusão. Eles deveriam terminar a parábola com uma resposta ao Senhor. Nós precisamos terminar a parábola, respondendo com verdadeiro “imão mais velho”. Caregando a pedra por causa de Jesus. Não por interesse pessoal. Pense nisto!

Os que confiam (Salmo 125)


O Salmo apresenta 3 tipos de pessoas:

       1.       Os que confiam
       2.       Os Ímpios
       3.       Os que se desviam

No primeiro e mais famoso verso do salmo encontramos 3 qualidades para o primeiro grupo de pessoas da lista:

a.       Eles confiam no Senhor: O verbo confiar no caso, não tem a ver com o que pensamos e entendemos por fé. Ele fala de bem estar e de segurança resultante de possuir algo ou alguém em quem depositar confiança. A septuaginta não traduz como “crer” mas como “ter esperança”, expressa então sentimentos. Para que um sentimento seja permanente, é preciso uma base bem segura. A base para esta esperança está na misericórdia do Senhor que gera conforto em contraste com a ansiedade gerada pela forma de adoração pagã, em que um deus tem que ser acalmado para que o povo não seja destruído. Isso nos faz pensar nas fontes de falsa esperança. Coisas aqui desta terra que nos trazem aparente tranquilidade. Ainda pensamos: “quando eu alcançar este ponto, quando estiver em tal lugar, quando receber determinado apoio ou ainda, quando a oportunidade aparecer”, falsa esperança de que receberei uma resposta adequada e tudo estará bem.

b.      Permanece para sempre: aqui precisamos entender um pouco da geografia da palestina, para entendermos a ideia. Jerusalém estava literalmente “plantada” sobre os montes. Sua localização a tornava segura visto a dificuldade de se atacar uma cidade com esta característica. Havia sido construída sobre as rochas, seus alicerces eram sólidos. Era cercada por vários montes e possivelmente, por dois conjuntos de muralhas. Essa lição nos aponta para a necessidade de seguirmos por caminhos seguros. É arriscado aproximar-se da fronteira do inimigo, chegar perto do pecado,  necessitamos firmar nossa base nos locais de segurança que encontramos junto do Senhor. Quanto à palavra hebraica usada no verso (permanecer), ela é utilizada em outras passagens para falar do Senhor que se assenta sobre a arca. A conotação aqui é “entronização”. Isso para mim é importante, pois apresenta o povo entronizado para reinar com Ele para sempre.

c.       São como os montes: o salmista não diz que devemos ser como o monte Sião, ele afirma que somos como o monte Sião. Lembra-se da profecia que tanto aterrorizava o Rei Nabucodonosor? A pedra lançada que destruía a estátua (poderes, reinos representados por cada metal) esta pedra, segundo a profecia, crescia e se transformava em um grande monte. Ele sabia que Babilônia era considerada como um grande monte (Jeremias 51:24 e 25), e que o desfecho do sonho indicava que um reino, infinitamente maior que todos os reinos já existentes em nosso planeta, iria tomar este lugar. O salmista pensa no monte em que estava assentada a cidade de Davi, porém nós pensamos, no reino de Nosso salvador, que vai prevalecer sobre todos os poderes e está separado para os que confiam e permanecem no Senhor. Somos como o Monte porque confiamos e permanecemos firmes nEle.

Agora existe o segundo grupo, a estes, Deus tem reservado sua ira caso não venham a desistir de seus caminhos de rebeldia e sair de Babilônia (Apocalipse 14:10). A bíblia deixa claro que somente quando o reino do Senhor subjugar por completo os reinos da terra “Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve (Malaquias 3:18-18). Mas a bíblia deixa claro que este dia virá.

O último grupo apresentado é dos desviados, ou seja, os que conheceram e se afastaram. Alguns permaneceram transigentes com os costumes deste século para se sentirem aceitos. Outros permaneceram com uma vida dupla: serviram aos dois lados (ou pensaram que serviam). O livro de Neemias traz pessoas desses grupos: Semaías “o informante secreto”, Noadia, a profetisa mercenária (6:10-14), Eliasibe foi um sacerdote transigente (13:4-9) e um de seus netos que casou com uma filha dos inimigos dos judeus (13:28). o triste deste grupo, é que um dia estiveram do lado de Deus. Um dia provaram da segurança (sentimento), mas talvez não tenham se firmado na base (misericórdia) no alicerce.

O salmo termina com uma declaração de “paz” para Israel. A palavra hebraica Shalom indica a paz num contexto de inteireza, integridade, harmonia e realização. O salmo 85:8 “Escutarei o que Deus, o Senhor, disser; porque falará de paz ao seu povo...”. enquando Davi declara paz sobre o povo no salmo 125 o salmo 85 nos diz que o próprio Senhor irá declarar paz sobre seu povo. E isso foi declarado com o Príncipe da Paz relatado por Isaías (9:6). A paz completa chega em nossas vidas declarada e manifestada pelo próprio Deus em Cristo, por meio do qual, recebemos e provamos a paz completa. A paz dos que por fim, serão entronizados para reinar com o Senhor. 
Shalom aleikhem (a paz sobre vós)!!!!