John Stott

Expor as escrituras é esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e Seu povo lhe obedeça.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

VINDE AS ÁGUAS (Izaias 55)


Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. (Isaias 55:1)


Existe alguns textos na bíblia que é quase impossível lê-los sem imaginar algumas cenas. Israel é uma terra muito seca. Quem viaja por esta terra, especialmente pelo deserto, experimenta uma sensação extrema de secura na garganta. Este tipo de sede pode levar uma pessoa a uma aflição intensa. O autor utiliza esta ilustração para apresentar a sede que carregamos em nossa alma. Viktor E. Frankl (um psiquiatra que parece mas não é teólogo) em seu livro “A presença ignorada de Deus”, diz que: sempre ouve em nós uma tendência inconsciente em direção a Deus”. A sede existe, porém, buscamos desesperadamente uma alternativa para ela, um “similar ou genérico”, para reduzir esta sede. Descobrimos então que a maior sede que temos está relacionada com a falta de Deus.

Esta é uma carta de amor de um Deus, para seus filhos em Babilônia. Tanto pode ser endereçada a Israel como pode ser endereçada a nós, cativos do pecado. Nós temos esta sede desesperada mas, não sabemos onde encontrar a água, não sabemos o caminho. O verso diz “todos”, isso inclui aqueles que não conhecem o caminho, que estão seguindo em busca da fonte que satisfaz. Tem um pensamento que diz: “em Cristo existe suficiente para todos e para cada um”. Seu sacrifício oferece para a humanidade se achegar a fonte das águas. Do mesmo modo que oferece a cada pessoa, de acordo com sua necessidade, uma oportunidade de saciar nossa sede particular.

Mesmo os que não merecem são chamados “os que não tendes dinheiro, vinde”. Se você acha que foi longe demais, não se sente digno ou com forças de voltar, é para você este chamado. O “vinho e leite” são citados no verso porque eram considerados artigos de luxo no oriente. Era símbolo das coisas boas da vida. Tem pessoas que sonham em poder desfrutar os prazeres da vida viagens, automóveis caros, luxo. O chamado do Senhor é para provar do melhor, das coisas verdadeiras da vida. O chamado é para provar da água.

Por que gastais o dinheiro... naquilo que não satisfaz? (verso 2)

As religiões pagãs tinham esta característica, se gastava muito dinheiro para adorar os falsos deuses. Eu penso nesta situação em nossos dias, e vejo como se gasta dinheiro com coisas que estão relacionadas com a aparência. O homem e a mulher de nossa época adora sua imagem. Gasta com coisas e logo precisa de mais. Já dizia o filósofo que: “o homem moderno vive entre a ansiedade de ter e o tédio de possuir”. Seguir os moldes deste mundo é tão caro. Gastamos com “aquilo que não é pão”. O pão era o alimento básico das pessoas no oriente. É como o feijão com arroz para nós brasileiros. Os ricos o faziam de trigo e os mais simples de cevada, o caso é que todos podiam se servir com ele.

O profeta chama atenção de todos: “inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá”. (verso 3)

Prestem atenção agora! Parem o que estão fazendo! Coloquem-se em uma posição de receptividade em que possam compreender o que vai ser falado. O Senhor, neste momento pede uma resposta daquele que ouve. E, não por acaso, Ele utiliza uma palavra que indica que devemos estar atentos e outra que indica tanto ouvir como obedecer. Se fizermos assim viveremos. Receberemos da valorosa água, para enfim saciar a sede que nos aperta o coração. Mas o que devemos fazer então?

Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. (verso 6)

Este verso poderia terminar o capítulo, ele explica o motivo de não conseguirmos saciar nossa sede. A palavra buscar tem uma conotação de exclusividade. Ou seja, buscai somente ao Senhor. Indica que outras fontes estão sendo procuradas. Não podemos buscar em mais de uma fonte, Deus não aceita isto. Temos que decidir a quem iremos servir. Por outro lado, vemos que embora estejamos buscando em mais de uma fonte, Ele continua perto de nós. A raiz da palavra indica que Ele está tão perto, mas está esperando nossa aproximação. Nossa decisão.

...porque é rico em perdoar. (verso 7)

Perdoar é não retribuir as ofensas com o castigo merecido. É assim que Deus quer agir com você. Ele tem um tempo determinado para nós, está aguardando nossa decisão. E você? Mas como Deus pode fazer isso? A palavra para perdão tem uma estreita ligação com a palavra utilizada na bíblia para a criação de Deus. Nós criamos de coisas que existem, Ele cria do nada. Como pode perdoar você? Que argumento pode ser utilizado a seu favor? Deus utiliza Seus próprios méritos para salvar os pecadores. Basta buscarmos de verdade. Amigo, depois de ler esta simples meditação, porque não correr para os braços de seu Pai celestial?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Entendimento e Salvação (Salmo 119:169 e 170)

Os Salmos estão dispostos em cinco livros, e cada livro termina com uma doxologia (uma prece que valoriza a grandeza de Deus). O salmo 119 faz parte do último livro e é o maior dos salmos. Está dividido em 22 grupos de 8 versos, sendo que, sempre ao iniciar cada grupo, o autor utiliza uma palavra que começa com uma letra do alfabeto hebraico. As 22 letras do alfabeto estão representadas no salmo. No caso dos versos que vamos estudar, o primeiro (verso 169) tem uma palavra iniciada com a letra “TAV” que é a última letra deste alfabeto. O salmo era utilizado para ensinar as crianças a ler e escrever, graças a esta estrutura.
O salmo 119 é um monumento que exalta a palavra de Deus como revelação da vontade do Senhor e seus ensinos. Todo o salmo valoriza este aspecto e também nossa necessidade de meditar no tema “de dia e de noite”.
Os versos que estudamos tem uma particular estrutura literária que nos ajuda a entender, com profundidade, a prece feita pelo autor.

169: Chegue a ti, Senhor, a minha súplica; dá-me entendimento, segundo a tua palavra.

170: chegue a minha petição à tua presença; livra-me segundo a tua palavra.

Podemos organizar o verso em uma estrutura e entender melhor o seu sentido da seguinte maneira:

A Chegue
     B a ti Senhor
         C a minha súplica
              D dá-me entendimento
                  E segundo a tua palavra
                  E’ segundo a tua palavra
             D’ livra-me
       C’ a minha petição
    B’ à tua presença
A’ Chegue

Na estrutura observamos que a mensagem central do verso, acompanha a mensagem central do salmo, uma valorização da palavra/promessa de Deus. Vista sem a ideia da estrutura, poderíamos pensar que os pedidos deveriam ser mais importantes que qualquer outra coisa. No caso aprendemos muito com a estrutura que valoriza tudo o que o Senhor representa para nós. Os pedidos são importantes, mas, a palavra de Deus dá ao adorador a certeza de que podemos pedir. Para que pedir se o Senhor não tivesse feito sua promessa.
Por outro lado, o texto valoriza o sujeito mais importante da adoração, e não é o que pede. Este, não pode obrigar o outro a fazer a sua vontade. Ele está entregue, com confiança, não mãos de quem o pode socorrer.
Ao analisarmos as palavras descobrimos coisas incríveis também:

1. Chegue: difere das outras palavras do gênero, já que dá uma ideia de estar próximo o suficiente para ver ou tocar. Assim deve ser nosso sentimento, ao orarmos, ter a certeza que nos aproximamos do Senhor. No verso 170, o autor utiliza outra palavra que lembra quando o povo se dirigia com seus sacrifícios para o santuário para adorar ao Senhor. Sua oferta (pedido) chegava então a Deus.

2. Presença: o escritor tinha bem claro a importância da pessoa de Deus. Estar na presença dEle já indicava que ele podia confiar que a resposta seria a melhor.

3. Petição: estar tão perto para apresentar os pedidos, ao ponto de ver o tocar. Quando orarmos, este deve ser o sentimento que domina nosso coração. Quando oramos, o Senhor se inclina para escutar, a oração é uma ferramenta indispensável ao crente.

4. Entendimento/Livra-me: agora chegamos ao pedido, o primeiro fala sobre a capacidade de “distinguir entre” ou seja, de entender o que seria melhor. Quando abrimos nosso coração para que o Senhor nos ajude a descobrir o melhor caminho, fazemos da vontade dEle, a nossa vontade. Consagramos e santificamos a nossa vontade. Já sobre livramento, descobrimos que o profeta precisa firmar-se na salvação oferecida pelo Senhor. Somente quando abrimos espaço para que nossa vontade seja santificada, é que encontramos a salvação, pois ela vem de Deus e de fazer a sua vontade. Não é pela força humana.

5. Palavra: No centro da oração está a palavra de Deus. Da mesma forma, que a palavra de Deus, deve estar no centro de nossas meditações e pensamentos. Ao estudarmos a palavra, nosso coração se enche de fé.

A pequena prece nos ensina a grande lição da posição que o Senhor deve ser colocado em nossa adoração. A sua vontade é mais importante que a nossa. Ele sabe o melhor. Ele tem a primazia e deve estar em destaque. Tem você valorizado a palavra revelada como o ponto mais importante de sua meditação? Ela está numa posição mais destacada que seus pedidos?