John Stott

Expor as escrituras é esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e Seu povo lhe obedeça.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O PECADO ENGANA E DESTRÓI


Apesar dos subtítulos escritos na bíblia não fazerem parte do texto inspirado, ninguém pode negar que muitos deles descrevem precisamente o conteúdo da porção bíblica correspondente.

Este é o caso da porção do capítulo 17:1-10 do livro de Jeremias. O profeta relata no primeiro verso, até que ponto chegou seu povo. O pecado estava tão arraigado, e como se isto não bastasse, seu engano estava tão escondido a seus olhos, que corriam o risco de não reconhecer a sua transgressão. E ai morava o perigo, já que, “o pecado engana e destrói”.

Jeremias deixa isto bem claro nos versos 5 e 7:

“...maldito o homem que confia no homem...”

“Bendito o homem que confia no Senhor...”

Existe um pensamento que diz que o maior inimigo é aquele que mora dentro dos nossos muros. E este é o caso de nosso coração. Quando Jeremias falava de como devemos desconfiar do homem, pensamos em várias pessoas que nos traíram a confiança. Porém, tenho para mim, que Jeremias estava pensando em uma pessoa em especial, ele mesmo.

Creio nisto porque logo em seguida (verso 9) ele relata “Enganoso é o coração...”. Não pense que o profeta estava pensando em todos os corações do mundo e excluindo o dele. Está afirmando sim que seu coração é enganoso. Uma tradução literal do texto seria: pegar pelo calcanhar. Esta é uma expressão idiomática que indica ser pego de surpresa. Quando menos se espera, vindo de uma direção que não se imaginava, somos pegos de surpresa. E como se isto não bastasse, temos um ferimento em nosso coração que é incurável (desesperadamente corrupto). Agora, o que mais espanta no texto, é a ultima parte do verso que diz “...quem o conhecerá?”. Que revelação incrível, já que o que mais acreditamos é que conhecemos o nosso coração. Isso é assustador! Antes de estudar Jeremias achava que poderia analisar meu coração de tal maneira, que saberia explicar tranquilamente minhas atitudes: erros e acertos. Mas o profeta não nos deixa nesta grande interrogação. No verso seguinte (verso 10), ele explica todo o trabalho de Deus em buscar entender cada um, com seus problemas, dificuldades, o profeta revela que: “Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamento”. Ele tem uma noção verdadeira de quem eu sou. Porque tomo determinadas atitudes. Minhas reações diante dos problemas. O Senhor conhece porque está empenhado em nos entender, já que, ele vai nos julgar. O restante do verso diz que este julgamento vai se dar “...segundo os frutos das suas ações”. a princípio isto pode nos ajudar já que eu poderia fazer um balanço de minhas atitudes diárias, procurando fazer mais coisas boas que coisas ruins.

Estaríamos seguros nesta situação se a palavra utilizada no idioma original para ações não dissesse respeito a nossas más ações. Que difícil nossa situação!

Porém quando voltamos ao verso 8 descobrimos algo fantástico: “Porque ele é como a árvore plantada junto as águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto.”

Água na bíblia pode ser uma ilustração da influência do Espírito Santo (João 7:38 e 39), sendo assim, se pensarmos no verso entendendo que onde lemos sobre a água ou o rio, podemos substituir pela atuação do Espírito Santo, entendemos que se plantarmos a arvora de nossa vida junto ao rio do Espirito Santo, tão perto que nossas raízes possam alcançar este rio, sua influência vivificadora poderá nos ajudar, mesmo em meio ao período de sequidão (problemas e ansiedades). As folhas estarão verdes e muito mais que isto, nossa árvore dará fruto.

Plante sua árvore junto ao ribeiro do Espírito, deixe que suas raízes recebem vida. E isto só vai acontecer se colocarmos nossa confiança no objeto correto. Bendito o homem que confia em Deus.

MENOS CERIMÔNIA E MAIS PRÁTICA


Miquéias foi um profeta judeu que desenvolveu seu ministério no período dos reis Jotão, Acaz e Ezequias. Diferente de Isaías, não era de uma família nobre. Foi contemporâneo dos profetas: Izaías e Ozéias. Seu livro se encontra na seção da Bíblia Hebraica denominada “Profetas Menores”. No capítulo 6:8 o profeta nos brinda com uma importante lição sobre relacionamentos. O texto diz:

Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e Andes humildemente com o teu Deus.

Podemos observar dois aspectos relevantes no texto.

1. “Ele te declarou...”: Miquéias não estava por apresentar algo novo, uma nova luz, ou algo parecido. Desde que o casal no Édem desobedeceu a Deus, uma nova ordem foi criada na relação entre eles. Passou a existir uma separação entre Deus e o homem, que resultou em uma “desconfiguração” dos seres humano. O homem deixou de ter a imagem do criador. Porém, logo depois da queda, Deus revelou a Adão o plano preparado para lidar com a situação. Deus iria restaurar esta imagem, e com isso, trazer suas criaturas de volta a seus braços. Esta esperança foi transmitida por Adão entre as gerações seguintes. Isso foi confirmado pelo Espírito Santo (Romanos 8:16), e foi ampliado pela revelação dos profetas durante anos. O problema é que o povo foi com os anos perdendo o verdadeiro sentido desta revelação. Para os Hebreus que estavam sendo retirados do Egito, influenciados pela cultura deste pais dominante, Deus faz uma aliança, ordenando (Gálatas 3:19) os princípios que eles deveriam seguir para que este processo de restauração fosse seguindo, e estes princípios podem ser vistos no decálogo (Êxodo 20).

2. O problema que surge então, é que para obedecer estes princípios, o povo começa a criar regras tão abrangentes que tornou difícil a guarda destes princípios. O sábado é um exemplo disto. Foram criados 613 mandamentos para uma correta observância do dia de repouso. Destes 613, 365 eram proibições e 248 sugestões de coisas que poderiam fazer. Diante deste emaranhado de temas, Davi, tentando sintetizar a questão, resume esta quantidade em apenas 11 (Salmo 15). O mesmo fez Isaías (33:15) resumindo para 6. Porém, segundo os próprios judeus, quem consegue realizar com êxito esta proesa é o profeta Miquéias. E isto ele consegue no verso que estudamos.

Uma rápido estudo das palavras importantes do verso pode nos ajudar a entender os conceitos do profeta. O profeta entende que Deus já tinha revelado ao homem o que é “BOM” (Heb. TÔB). E esta palavra indica que o profeta estava pensando no sentido mais amplo da palavra.

a. A palavra estava relacionada com o bem prático, econômico ou material;

b. Também indicava bondade abstrata como beleza e prazer;

c. Valor qualitativo, que era usado quando se pensava na pureza do ouro, dos óleos aromáticos da mais alta qualidade e da nobreza do caráter;

d. Da bondade moral;

e. Do bem filosófico.

O bem que o profeta pensava abrangia todos os aspectos da vida, ou seja, Deus revelou ao homem o que ele precisava fazer, porém o homem, se cercou de tantas cerimônias, tradições e costumes, e tudo isto se misturou com a revelação divina de tal maneira, que os homens correm o perigo de achar que estas cerimônias, e simplesmente elas, são responsáveis pela restauração da imagem de Deus no homem. Estas cerimônias não tem valor sem a verdadeira piedade. Práticas externas não podem substituir uma santificação alcançada no contato com o Espírito Santo.

O profeta continua apresentando as formas de seguirmos de acordo com as revelações de Deus, de uma forma efetiva.

PRATICANDO A JUSTIÇA (Heb. MISHPAT): manter a honestidade em todas as suas ações. praticar seria igual a ordenar a vida de acordo com a vontade de Deus.

AMAR A MISERICÓRDIA (Heb. HESED): esta é a palavra mais importante quando pensamos em amor. Uma disposição mental em fazer o bem acompanhada de ações. O termo aparece 250 vezes na Bíblia Hebraica.

ANDES HUMILDEMENTE (Heb.TSANA): desenvolver um correto relacionamento com o Senhor, sabendo que Ele sabe o que é o melhor para cada um. Ele está no controle.

O profeta vai bem fundo no ponto que seria o verdadeiro sentido da religião: desenvolver uma íntima relação com Deus. As cerimônias e tradições só contribuem, se elas desenvolverem este relacionamento. O profeta está totalmente ciente de seu papel como revelador da vontade de Deus. As duas tábuas dos mandamentos são a prova da contextualização da mensagem. Praticar a justiça e amar a misericórdia, são fatores que irão influenciar diretamente os relacionamentos entre o homem e seu semelhante (como diz a segunda tábua da lei). Já o terceiro ponto, andar humildemente diante de Deus tem relação com a primeira tábua (com os 4 primeiros mandamentos), e podemos destacar o verbo andar que dá uma idéia que isto é uma questão diária e constante. Ande e continue andando.

Deus quer restaurar a sua criação, dia após dia, santificar seus filhos os preparando para viver com Ele. Isso tem a ver com um processo interno de transformação. Contemplação e prática. É um desafio para nós, permitirmos este trabalho. Isto tem a ver com disciplina e consagração.