John Stott

Expor as escrituras é esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e Seu povo lhe obedeça.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

MONTE EBAL E GERIZIM


No início da campanha militar organizada para de tomar a terra de Canaã, encontramos um parêntesis curioso. O texto se encontra no capítulo 8 do livro de Josué nos versos 30-35. Depois de destruir Jericó e Ai, acampados em Gilgal, Deus faz um pedido ímpar: eles deveriam se dirigir ao centro do país, mas precisamente aos montes Gerizim e Ebal, para fazer uma renovação da aliança com o SENHOR.

O curioso do pedido é que deveriam ir desarmados para o local. Desprovidos das armas, deveriam entrar no meio do território inimigo confiantes na proteção do SENHOR. Deveriam dirigir-se ao Monte Ebal que ficava a 30 km de Ai (tão perto da cidade destruída!). Imagino que estavam ansiosos por se estabelecerem no território prometido, que esta longa jornada seria uma grande provação. Teria você a confiança de entregar sua vida sob os cuidados de Deus?

Quando chegaram ao local indicado, se colocaram no meio de um vale que ficava entre os dois montes. O vale possuía uma largura de pouco mais de meio quilômetro. Era como um anfiteatro que abrigaria perfeitamente o grupo para realização de importante cerimônia.

Josué separa o grupo em duas partes, tendo ao centro a Arca da Aliança. O grupo que estava do lado do monte Gerizim (sul), ao serem lidas as Bençãos da Aliança, deveria responder com um sonoro amém. O mesmo aconteceria com o grupo que ficou do lado do Ebal (norte), porém, deveriam responder quando fossem pronunciadas as maldições. Antes de começar a cerimônia (v. 30), Josué ergue um altar no lado do Ebal. Surge então a curiosidade: porque deste lado? Seria o motivo o fato deste monte ter sido o primeiro lugar onde Abraão ergueu um altar na terra de Canaã? Seria uma boa resposta, porém, não te causa felicidade o fato de se erguer um altar, justo no monte onde seriam lidas as maldições?

No monte das maldições ergue-se então um altar de perdão. No meio dos erros, podemos estar certos de que existe uma oportunidade de perdão. Você já duvidou em algum momento de estar sob os cuidados de Deus por ter caminhado para longe de Sua vontade? Por ter feito algo que Ele te pediu que não fizesse? Por ter recusado insistentemente em obedecer? Saiba que no monte da desobediência existe um altar de perdão. Que a maldição pode ser o resultado de uma escolha errada, mas no meio dos erros, existe uma mão estendida. Uma oferta de perdão. Uma nova oportunidade.

Se você que está lendo esta meditação, se sente um(a) estrangeiro (a) no meio do povo de Deus por não freqüentar uma igreja, saiba que existe um lugar especial para você debaixo da proteção infinita de Deus. No verso 35 descobrimos esta verdade. Todos deveriam conhecer a vontade de Deus para as suas vidas (descrita na aliança). Inclusive os estrangeiros que estavam por ali. Ao destruir a cidade de Jericó, uma família se uniu ao povo na terra de Canaã. Era Raabe. O livro de Josué insiste em dizer que era uma prostituta, e isso não acontece por preconceito, mas para que seja exaltado o perdão, a misericórdia de Deus, que poderia alcançar a qualquer pessoa. Raabe e sua família tinham direito de participar da aliança com Deus, e não somente isto, por meio desta família, suscitou Deus um dos maiores personagens do Antigo Testamento: DAVI. Mas as bençãos não terminam por aí, Raabe vai ser lembrada mais tarde, não pelos seus erros, mas por pertencer a linhagem do próprio Jesus. Além de perdoar, Deus oferece uma nova oportunidade.

Não importa o que você haja feito, os caminhos que passou, não importa se você cometeu um erro que o envergonha muito, não importa se você magoou pessoas queridas. Existe um lugar para você junto do povo de Deus! Uma oportunidade de salvação e perdão. Estaria disposto a aceitar esta oportunidade?

Poema da primavera



A chegada da primavera é o tema abordado por Salomão a partir do verso 10 do capítulo 2 de Cantares. A primavera marcava em primeiro lugar o fim do inverno, um período difícil, para os homens e a natureza. Esta mudança estava passando despercebida pela esposa. A chegada da primavera não poderia ser ofuscada pelos problemas do inverno, o esposo diz: “levanta-te”. Ela estava prostrada, o inverno pode trazer dúvidas, desânimo, depressão. O problema do inverno não é o frio, mas a falta de luz. Outro convite do esposo seria para que ela se movimentasse, ele diz: “Vem”. É um convite para sair da paralisia, é chegada à primavera!

O esposo estava próximo, atento ao que estava passando a esposa. Embora o inverno e suas dificuldades tornassem as coisas mais difíceis, ela não poderia duvidar que o esposo estivesse ali, “é tempo de cantarem as aves”, outra possível tradução seria: é tempo da poda. Tempo de cuidar, tempo de estar atento, tempo de buscar, é primavera e o convite é para movimento.

A tórtola (rola) anunciava com seu canto as boas novas. Esta ave migratória entoava seu cântico ao princípio da estação das flores. Outra indicação da mudança eram os figos. Os primeiros já surgiam. Sua doçura era a prova de que novos tempos chegaram. Estes já eram motivos para que a esposa reagisse. Porém o marido insiste mais uma vez. Agora ele utiliza a pomba como símbolo. A pomba das rochas, ave que escolhia lugares distantes para descansar. Escondida entre as rochas.

Este fundo poético pode ser o bastante para o nosso deleite nos versos de cantares. Porém o livro é mais do que isso. Ele nos remete ao amor do esposo da igreja (Cristo). A aplicação comum que se faz do livro, é o relacionamento da igreja com Cristo. Quando fazemos esta aplicação, descobrimos muito mais cores e flores nos versos.

O inverno é o tempo da falta de luminosidade. Outro dia li um pensamento de Einstein que quando foi perguntado para dar uma definição sobre a luz, sua resposta foi surpreendente: “a luz é a sombra de Deus”. Espantou-me a profundidade do tema abordado pelo importante cientista. Ele entende que até mesmo Sua sombra, a sombra de Deus, estaria repleta de luminosidade. Terminou o inverno, é tempo de ver a luz. O desespero da vida sem Deus precisa ter fim. É o convite do Esposo, passar para um novo sentido de relacionamento, a luz da presença de Deus nos espera. E “levanta-te” é o convite!

O Esposo insiste em ressaltar a beleza da esposa, essa é uma das qualidades que mais aprecio no ministério de Cristo. Sua capacidade de ver o potencial das pessoas. Ele olhava para Maria Madalena e conseguia ver tudo o que ela poderia se tornar, se seu coração estivesse aberto. Foi assim com o jovem rico. Cristo o amou e fez o mesmo convite: “vem”. É um símbolo de uma passagem, chega de inverno! É tempo da primavera.

Na parte religiosa do povo de Israel, havia um significado importante para o período da primavera. A festa mais importante para eles acontecia no início do período: a Páscoa. Tempo de perdão. Se no inverno o tempo estava marcado pela falta da luz, falta de relacionamento, falta de contato, a primavera trazia a esperança do perdão. A renovação da natureza era uma boa metáfora para a renovação da vida da esposa de Cristo. A misericórdia estava à disposição, a graça estava a seu alcance.

Dois símbolos surgem em questão que têm relação direta com a páscoa.

a) A Tórtola (rola)

b) A Pomba das Rochas

Ambos os animais estavam relacionados com o serviço de sacrifício. Levíticos 1:14 nos relata: “Se a sua oferta ao SENHOR for holocausto de aves, trará sua oferta de rolas ou de pombinhos.” As ofertas queimadas ao senhor eram voluntárias (assim como aceitar o chamado do Esposo), e representavam uma consagração total do indivíduo a Deus. Estavam envolvidos três símbolos importantes nesses sacrifícios: fogo (purificação), água (batismo) e sangue (aceitação do substituto). As duas aves podem ensinar mensagens diferentes para nós.

Mensagem de esperança (tórtola): esta ave migratória trazia em seu canto o anúncio do início da primavera. Tempo de perdão, tempo de luz. O esposo chama para uma vida melhor. A esposa precisa levantar-se.

Mensagem de modéstia (pomba): a pomba e sua reclusão nos ensinam da modéstia, humildade e simplicidade que devem ser a experiência da esposa diante do esposo.

As duas aves serviam como sacrifício para os pobres. Era um sinal de que Deus estava preocupado com o coração em primeiro lugar. Os grandes sacrifícios e os mais simples estavam, sobretudo, na mesma condição. O sangue de animais, sua morte, não resolvia o problema dos pecados, mas, apontavam para quem poderia resolver.

A Páscoa apontava para um Deus que “passava por alto” (significado do nome páscoa) pela porta dos fiéis no Egito, salvando assim os primogênitos do Seu povo. O chamado do esposo celestial, em primeiro lugar, aponta para um Deus disposto a perdoar. A oferecer uma nova oportunidade (primavera). O texto apresenta o convite para apreciar a beleza de um novo tempo. Quem sabe este convite pode estar sendo oferecido para cada um de nós.

Levanta-te! Vem!