John Stott

Expor as escrituras é esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e Seu povo lhe obedeça.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A BRECHA



Logo depois de ter sido proclamado rei em Hebrom (capítulo 12), Davi deseja trazer a arca de volta para Jerusalém. A Arca havia sido tomada pelos Filisteus e colocada na casa de Dagom em Asdode (1 Samuel 5). Ela permanece 7 meses entre este povo. Como a presença da Arca atormentava trazia medo, já que, o Deus dos Hebreus se mostrava superior aos deuses locais. Em 1 Samuel 6:7 diz que os Filisteus fizeram um carro novo para o transporte da Arca. O motivo para trazer de volta este símbolo nacional está explícito no verso 3 de 1 Cônicas 13: “porque nos dias de Saul não nos valemos dela”. A arca era um símbolo da presença de Deus e seus cuidados sobre o povo Hebreu ao entrar na terra prometida. Ela havia sido usada anteriormente como um amuleto de guerra, agora Davi, queria restituí-la a seu verdadeiro propósito.

Claramente, e como revelação de sua capacidade de liderança, Davi deseja que este seja um evento nacional. Compartilhado por todos. O sonho de Davi deveria ser o sonho do povo também. Vemos isso através da quantidade de vezes no capítulo que se repete a palavra “toda/todos/todo” (8 vezes). Era justo que eles fizessem isto. Todos concordaram. A partir do verso 5, Davi reúne cerca de 30 mil homens para organizar o cortejo de 14 km de Quiriate-Jearim a cidade de Davi (Jerusalém).

Davi copia a idéia dos filisteus e coloca a arca em um carro novo. A orientação era bem clara, em Números 4:4-15 e 7:9 deixa a orientação de que ela deveria ser levada pelos Coatitas. A Arca estava na casa de Abinadabe e foi retirada dali com o auxílio de Aiô (que dirigia o carro) e Uzá que acompanhava o carro (Ambos filhos de Abinadabe). O cortejo foi seguido por um espírito de alegria como relata o verso. Porém o verbo utilizado na passagem está em Piel o que dá uma conotação de diversão ou brincadeira. Aparentemente havia uma falta de reverência neste “alegrar-se”. No mesmo verso, logo em seguida, é apresentado uma série de instrumentos que acompanhavam o cortejo. Dentre eles o “tamborim” que era um dos instrumentos de percussão mais comum. Eram usados por mulheres no contexto de diversão. O mais importante sobre o instrumento é que não é mencionado como instrumento de adoração no templo. A idéia de diversão ou até mesmo de uma certa irreverência ao objeto que estavam levando, ou até, a presença de Deus, pode ser notada nos detalhes aqui mencionados.

Porém o momento marcante deste desastrado esforço foi o momento em que, por algum problema com os bois, o carro balança e com a preocupação de que a arca poderia cair, Uzá estende a mão para segurar a Arca. Imediatamente este homem foi morto. Uzá talvez estivesse passando por uma doença espiritual que afeta os cristãos modernos. O fato da Arca ter passado tantos anos em sua casa, fez com que ele se tornasse tão familiarizado com o objeto, que para ele seria normal o toque. Não passam os cristãos por uma crise de familiaridade com as coisas de Deus, a tal ponto que, eles sintam liberdade para se aproximar das coisas de Deus sem o cuidado devido. Será que cristãos não estão confundidos com a definição do que é sagrado e do que é profano. Não estamos “acostumados” com o templo de tal forma que nos sentimos muito a vontade lá? Estas são perguntas a serem respondidas. Davi confessa (15:13) que “não buscamos, segundo nos fora ordenado.” Quando fica triste com o acontecido, ele dá ao nome ao local do incidente de Perez-Uzá (brecha de Uzá). Será que o povo de Deus não tem criado muitas brechas em todos os sentidos que nos levam a realizar a nossa adoração ou vida fora do que Deus nos tem ordenado?

É uma situação a se pensar.

OBRAS DA LEI


Eu sempre digo que o livro de Romanos e Gálatas são primos. Romanos pode ser considerado uma ampliação de Gálatas, porém, porque o apóstolo não enviou a mesma carta aos romanos? Não pouparia o trabalho? Existe uma diferença e podemos definir esta diferença da seguinte forma:
Romanos responde a pergunta: como podemos ser salvos?
Gálatas responde a pergunta: Então, por que a lei? (se nós somos salvos por meio da fé, por que a lei foi dada ao homem?
Este é o assunto principal do livro de gálatas. O problema é identificado logo no primeiro capítulo:
Galatas 1
6 Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho;
7 O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.
Repararam a repetição da palavra "outro"?
O outro do verso 6 é a palavra "heteros" (outro diferente), já o outro do verso 7 é a palavra "allos" (outro igual). Paulo diz na verdade que eles estavam passando de um evangelho que não tem nada a ver com o evangelho de Cristo, e (v. 7) não é nem um outro parecido, é muito diferente.
Vamos estudar sobre o tema das obras da lei com esta explicação em mente e um pouco de história dos judeus.
Havia duas escolas rabínicas (uma mais radical) SHAMAI dizia que se você não alcançar 99% de justiça, já fracassou.
HILLEL dizia que se alcançar 50% mais 1% de justiça você já alcançou o objetivo. A escola de Hillel prevaleceu. Este mestre tinha um neto chamado Gamaliel I. este foi o professor de Paulo. Quando Paulo, se apresentando na carta aos Filipenses, diz de si mesmo "...quanto a justiça da lei, irrepreensível..." ele está pensando ou utilizando o pensamento desta escola.
A idéia destes homens seria que: quanto mais eles conseguissem realizar ou obedecer os mandamentos, eles estariam acumulando méritos que ao Deus comparar com suas transgressões, estas seriam superadas pelas "obras da lei" que eles realizavam. No caso de um povo que acumulasse muitos méritos, eles poderiam transferi-los para a sua posteridade, um princípio chamado "a justiça dos pais". Então neste pensamento, a misericórdia de Deus era adicionada aos méritos daquele judeu, sem o qual ele não poderia alcançar a salvação.
Este era o problema encontrado por Paulo.
Atos 15:1
Alguns indivíduos que desceram da judéia ensinavam aos irmãos: - Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos." Para os judeus a salvação estava restrita ao "povo do concerto", e a circuncisão era a "porta do concerto". Certamente era isto que paulo tinha em mente quando escreveu que "uma pessoa não é justificada por obras da lei" (Gálatas 2:16)
CUIDADO:
Quando encontramos uma pessoa que se esforça para obedecer a lei de Deus pensamos: - Este irmão é legalista! Muitos acham isto, porém, obediência por si só não é legalismo. Pensar que a sua obediência pode ajudar no processo de salvação é que podemos chamar de legalismo.
Estas foram algumas idéias que gostaria de passar para vocês sobre o tema das "obras da lei", que iremos nos deparar ao estudar a lição deste trimestre.