John Stott

Expor as escrituras é esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e Seu povo lhe obedeça.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Agapao: O amor que restaura


I Pedro 4:8

Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.

Algumas dificuldades podem aparecer ao tentar entender este texto (aliás, como existem pessoas que encontram dificuldades).

Ao analisar o verso, logo a princípio, podemos destacar que o apóstolo adverte que “sobretudo”, ou seja, antes de tudo, o amor deve ser a prova suprema do cristianismo, deve estar presente em nossas relações. Ele continua dizendo que “tende” ou melhor, segue/continua tendo este amor. Sua pressuposição é a de que os cristãos já possuem este sentimento em suas relações. O cristianismo sem amor não “funciona”. Talvez Pedro tenha nos indicado que esta deve ser a nossa preocupação quanto a nossa experiência religiosa. Antes de tudo, ame. Um amor ardente, que não conhece limite. Ele une os homens diferentes, em uma relação sadia. Não há problemas que a igreja não possa resolver, quando existe esta atmosfera de amor inteligente e abnegado.

Nesta passagem Pedro cita Provérbios 10:12. Onde o amor está escasso, existe uma facilidade em se exaltar os erros e fracassos dos outros. Onde o amor reina, a empatia, compaixão, o perdão, são forças ativas para cuidar dos relacionamentos. Este espírito atrai a atenção dos incrédulos, que se alegram em ver diferença na relação entre os crentes. Mas ainda pode incomodar a expressão “Cobrirá” (Gr. Kalúpt). Para alguns, a dificuldade para entender este termos se dá, no fato de que cobrir parece ser uma ação divina paliativa. Empurrar a sujeira para baixo do tapete. Nós podemos entender o cobrir descrito por Pedro, quando, com o auxílio da Septuaginta (Antigo Testamento em Grego), descobrimos que Davi relata sobre esta experiência no Salmo 32 (Salmo 31 na Septuaginta). A idéia de Davi, quando fala em Deus cobrindo os pecados, de um pecador que não terá que enfrentar suas faltas. Fala de um Deus que toma a frente da situação. Ele dá a resposta para as exigências de Sua própria lei. É impressionante como no verso 5, Davi confessa que tentou encobrir seu pecado, e esta foi a experiência mais triste que já teve. Sua experiência toma uma nova força quando ele permite que Deus tome esta atitude. O sangue de nosso Senhor Jesus Cristo é a resposta para a nossa condição.

O amor cobre, não porque Deus quer esconder as faltas de seus filhos. Ele cobre, por assumir esta culpa. Porque não apagar então? Por causa de sua lei. Ele estaria indo contra sua própria pessoa fazendo assim. Este é o poder curativo do amor. Ele restaura.

Existe um bom número de palavras para o amor e amar em grego, as mais importantes são: phileo (a atração de pessoas entre si dentro e fora da família), stergo (amor entre pais e filhos), erao (amor com paixão, desejar, ansiar por) e agapao.

No judaísmo helenístico e rabínico, ágape/agapao ficou sendo o conceito central para descrever o relacionamento de Deus com o homem, e vice-versa. O amor do Senhor alcança seu povo no meio de suas aflições. A Torá é uma prova do amor de Deus: o fiel corresponde ao amor de Deus à medida em que obedece aos mandamentos, imita a compaixão zelosa de Deus, e permanece leal a Ele. No Novo Testamento, o amor é uma das idéias centrais que expressam a fé cristã. A atividade de Deus é o amor, que procura o amor recíproco do homem. Um crente é um pecador que é amado por Deus. Quando reconhece este fato, entra na esfera do amor de Deus. ele mesmo se torna amoroso.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Tempo determinado


Um filme é composto de milhares de cenas individuais, cada uma das quais transmite um sentido ao espectador; o sentido do filme todo, porém, só ficará evidente para nós no final da apresentação, embora tenhamos aprendido o sentido de cada cena individual. Assim também é na nossa vida. o sentido das coisas que acontecem conosco só nos será revelado no final. Este sentido final dependerá de nossa realização em cada cena de nosso filme. Existem duas possibilidades de entendimento deste filme:

a) tudo tem sentido
b) tudo é desprovido de sentido.
Para definirmos isso vamos recorrer ao sábio Rei Salomão: "TUDO tem o seu tempodeterminado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu." Eclesiastes 3:1
O português não colabora para entendermos bem o sentido do pensamento de Salomão. Duas palavras são utilizadas para tempo no idioma original: zeman (heb.) e 'et (heb.). Seus correspondentes no grego são as palavras Crónos e kairós. Crónos fala de um tempo em que o homem não pode intervir; nós envelhecemos e nada podemos fazer quanto a isso. Kairós no entanto, fala de um tempo em que o homem pode interagir com Deus. Existe uma oportunidade então em que deveríamos escolher fazer o melhor. Apesar de parecer sem sentido, o filme de nossa vida está sendo controlado por Deus. Ele está no comando. Ele é o diretor. E no mesmo capítulo nos é dito que "Tudo fez formoso em seu tempo" (v.11). O tempo de Deus é perfeito. Ele organiza o filme de forma perfeita, devemos aproveitar bem cada cena. O conselho seria então: conhece o seu tempo. Tome decisões de acordo com este conhecimento. Conhece seu tempo.
Pr. Moreira

A nova aliança


O livro de Jeremias, particularmente no capítulo 31 (versos 31 em diante), nos traz um bom entendimento do tema tratado por Jesus na "santa ceia". Esta explicação abre nossas mentes para entendermos sobre a "abolição da lei na cruz" e temas parecidos.
Jeremias fala sobre a quebra do pacto "cortado/feito" com o seu povo logo após sua saída do Egito. O esforço dos israelitas em obedecer o pacto por sua própria força teria sido inútil (31:32). Desta forma, o profeta apresenta uma "nova aliança" que iria substituir a aliança feita no sinai (31:31).
A pergunta que vem a mente em seguida seria: Mas como Deus poderia impedir a quebra desta nova aliança? A resposta é simples, e a encontramos numa combinação entre esta perícope e o texto de Ezequiel 36:26 e 27:
"26 E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.
27 E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis."

A nova aliança seria cumprida pela operação de Deus no ser humano por meio de seu Espírito Santo. Mas todas as alianças eram feitas por meio de acordo entre duas partes, como Deus iria fazer com o homem? A resposta é que Ele já fez. Encarnando, Jesus pode tomar nosso lugar diante da nova aliança. Ele é nosso Sacerdote (intercessor diante de Deus) e nossa oferta. A desobediência humana foi trocada pela obediência de Cristo.
Agora quanto a abolição da lei? A "nova aliança" apresentada por Cristo no novo testamento deve ser entendida de acordo com o texto de Jeremias, já que o profeta a prevê. E Jeremias não fala de abolição, mas, de aplicação pessoal da mesma por meio do Espírito, como vimos em Ezequiel. A lei de Deus é o retrato fiel de seu caráter, uma fotografia de seus princípios. Isto não pode mudar. Vemos textos como os de Gênesis 26:5 que citam a guarda de mandamentos antes do sinai. Gálatas 3:19 explica a função da lei do sinai de apontar o descendente (Cristo). O que surge então, seria uma lei que seria nova no sentido temporal, mas quanto ao momento de sua ratificação. Abraão foi salvo pela fé nesta ratificação (ver Romanos 4).
Podemos aprofundar o estudo e lembrar que Lúcifer foi expulso do céu por pecar contra Deus. O pecado só é levado em conta quando existe lei (Romanos 5:13). Houve claramente uma transgressão da lei no céu. A nova aliança vista deste ponto deveria ser entendida como mais antiga que a antiga aliança. Ela foi criada antes do sinai. Os patriarcas antes de Moisés conheciam a lei de Deus.
A lei não pode ser anulada pela graça, já que, a graça foi dada por causa da lei. Por nossa insuficiência em guardar seus requisitos. Se a lei pudesse ser abolida por Deus, a morte de Cristo perderia seu valor, já que, Sua morte se deu por causa desta impossibilidade (abolir a lei). O novo testamento fala sim de uma abolição. A abolição do pacto feito no sinai. Este pacto tinha tempo determinado. Agora, o que Deus requer de seus filhos, é muito maior que o pacto do sinai.
Podemos dizer como Paulo em romanos:
Romanos 7
"24 Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?
25 Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado."