
I Pedro 4:8
Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.
Algumas dificuldades podem aparecer ao tentar entender este texto (aliás, como existem pessoas que encontram dificuldades).
Ao analisar o verso, logo a princípio, podemos destacar que o apóstolo adverte que “sobretudo”, ou seja, antes de tudo, o amor deve ser a prova suprema do cristianismo, deve estar presente em nossas relações. Ele continua dizendo que “tende” ou melhor, segue/continua tendo este amor. Sua pressuposição é a de que os cristãos já possuem este sentimento em suas relações. O cristianismo sem amor não “funciona”. Talvez Pedro tenha nos indicado que esta deve ser a nossa preocupação quanto a nossa experiência religiosa. Antes de tudo, ame. Um amor ardente, que não conhece limite. Ele une os homens diferentes, em uma relação sadia. Não há problemas que a igreja não possa resolver, quando existe esta atmosfera de amor inteligente e abnegado.
Nesta passagem Pedro cita Provérbios 10:12. Onde o amor está escasso, existe uma facilidade em se exaltar os erros e fracassos dos outros. Onde o amor reina, a empatia, compaixão, o perdão, são forças ativas para cuidar dos relacionamentos. Este espírito atrai a atenção dos incrédulos, que se alegram em ver diferença na relação entre os crentes. Mas ainda pode incomodar a expressão “Cobrirá” (Gr. Kalúpt). Para alguns, a dificuldade para entender este termos se dá, no fato de que cobrir parece ser uma ação divina paliativa. Empurrar a sujeira para baixo do tapete. Nós podemos entender o cobrir descrito por Pedro, quando, com o auxílio da Septuaginta (Antigo Testamento em Grego), descobrimos que Davi relata sobre esta experiência no Salmo 32 (Salmo 31 na Septuaginta). A idéia de Davi, quando fala em Deus cobrindo os pecados, de um pecador que não terá que enfrentar suas faltas. Fala de um Deus que toma a frente da situação. Ele dá a resposta para as exigências de Sua própria lei. É impressionante como no verso 5, Davi confessa que tentou encobrir seu pecado, e esta foi a experiência mais triste que já teve. Sua experiência toma uma nova força quando ele permite que Deus tome esta atitude. O sangue de nosso Senhor Jesus Cristo é a resposta para a nossa condição.
O amor cobre, não porque Deus quer esconder as faltas de seus filhos. Ele cobre, por assumir esta culpa. Porque não apagar então? Por causa de sua lei. Ele estaria indo contra sua própria pessoa fazendo assim. Este é o poder curativo do amor. Ele restaura.
Existe um bom número de palavras para o amor e amar em grego, as mais importantes são: phileo (a atração de pessoas entre si dentro e fora da família), stergo (amor entre pais e filhos), erao (amor com paixão, desejar, ansiar por) e agapao.
No judaísmo helenístico e rabínico, ágape/agapao ficou sendo o conceito central para descrever o relacionamento de Deus com o homem, e vice-versa. O amor do Senhor alcança seu povo no meio de suas aflições. A Torá é uma prova do amor de Deus: o fiel corresponde ao amor de Deus à medida em que obedece aos mandamentos, imita a compaixão zelosa de Deus, e permanece leal a Ele. No Novo Testamento, o amor é uma das idéias centrais que expressam a fé cristã. A atividade de Deus é o amor, que procura o amor recíproco do homem. Um crente é um pecador que é amado por Deus. Quando reconhece este fato, entra na esfera do amor de Deus. ele mesmo se torna amoroso.

