John Stott

Expor as escrituras é esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e Seu povo lhe obedeça.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

QUANDO SECA O RIO



O momento de Israel era delicado. A apostasia levou a nação a uma posição de fraqueza espiritual. Deus procurava um coração indignado com respeito a esta situação, uma pessoa de oração que pudesse lutar por uma reforma espiritual no meio do povo de Deus. E este homem existia, sempre existem. Deus, segundo as palavras de Jesus em João 4, está buscando seus fiéis, e os busca para realizar uma obra que nenhum outro poderia realizar. Nesta missão, Elias foi indicado para defender a bandeira da verdade. Nas montanhas de Gileade, ao oriente do Jordão, o profeta vivia contemplando esta situação. Um homem de oração que seria chamado para deter o crescimento da apostasia em Israel.

A idolatria havia separado a nação de sua fonte de poder. As forças que regiam a natureza, segundo se acreditava, eram responsáveis pelo controle da chuva, do vento, os frutos eram resultado do poder criador do sol. As bençãos temporais serviam para enganar o coração enfraquecido do povo. A mensagem que o profeta recebeu do Senhor foi então incrível:

“Tão certo como vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou, nem orvalho nem chuva haverá nestes anos, segundo a minha palavra.“ (1 Reis 17:1)

Antes de chegar a Samaria, Elias havia passado por lindos vales, por rios que nunca haviam secado, ele poderia ter perguntado: Como isto tudo poderá secar? Mas não havia espaço para a incredulidade em sua missão. Elias estava sendo preparado para exercer um ministério de fé. O que se via, a realidade, poderia ser mudada num instante pela vontade daquele que criou o universo. Quando Elias dizia “...segundo a minha palavra (Heb. Dabar)”, ele dizia porque sua palavra, era sustentada por aquele que não pode mentir. Do mesmo modo que pela lógica humana, era difícil que os verdes vales de Samaria e os seus rios secassem, pela lógica humana, era difícil acreditar que pela palavra de Elias isso tudo iria acontecer.

Depois deste primeiro encontro com Acabe, Deus enviou uma mensagem ao profeta para se retirar no deserto. A mensagem deveria se cumprir, para que os adoradores de Baal fossem abertamente humilhados. O falso deus, que cuidava da natureza e de sua terra, não podia nada diante do SENHOR. Este retiro se daria próximo ao ribeiro de Querite. O interessante do nome desta torrente, é que sua tradução pode ser:

Cortar fora (cortar para encaixar)

Derrubar ídolos (cortando a base)

Fazer (aliança)

Eu creio que este nome significava muito para o ministério do profeta e sua preparação para enfrentar ao rei. No deserto, Elias aprenderia ainda mais, sobre a importância de confiar na palavra de Deus. Seria cortado, aparado, e esta é uma experiência dolorosa. Confiar nas promessas do Senhor, acreditar em sua providência. O nome do ribeiro também apontava para sua missão, ao derrubar os ídolos de Israel (cortando suas bases), o nome do Senhor seria mais uma vez exaltado. A base das crenças dos pagãos, ou seja, o controle de seus deuses sobre a natureza, estava sendo questionada pela palavra do profeta de Deus. Por último, Deus estaria fazendo uma aliança com seu profeta, que iria mais tarde, ser retirado desta terra para representar os que não experimentaram a morte, levado num carro de fogo.

Porém no verso 7, acontece algo que não se esperava (que o homem não espera). A torrente secou. Deus o havia enviado para aquele local, ele aceitou a ordem, fez de acordo com a palavra, agora estava sofrendo as conseqüências da seca profetizada por sua boca.

Percebe a dependência de Deus? Percebe que Elias estava à disposição de seu Senhor? O que acontece quando o ribeiro seca? Você duvida? É difícil acreditar quando não conseguimos entender os propósitos do Senhor. O ribeiro de Querite poderia ser um lugar de conforto para Elias. Seus inimigos jamais o encontrariam ali. O profeta, porém, não havia concluído sua obra. Elias escutou a ordem (verso 8) sem titubear e foi para Fenícia. A presença de Elias em Sarepta iria transformar a vida de uma viúva e seu filho. Pode você acreditar que os propósitos de Deus estão acima de nossa vontade? Que se o ribeiro secar, Deus nos proporciona sempre uma nova oportunidade? O incrível que Sarepta fazia parte do território da Fenícia (terra natal de Jezabel). E o profeta obedece à ordem de seu Deus e segue para ser uma benção na terra de sua maior inimiga. Querite foi o ribeiro onde Elias aprendeu a aceitar a vontade de Deus.

E você? Estaria passando pela mesma experiência? O ribeiro secou? Deus está te chamando para uma nova terra, um novo desafio? Ouça o chamado do Senhor e seja uma benção onde ela te chamar.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

MONTE EBAL E GERIZIM


No início da campanha militar organizada para de tomar a terra de Canaã, encontramos um parêntesis curioso. O texto se encontra no capítulo 8 do livro de Josué nos versos 30-35. Depois de destruir Jericó e Ai, acampados em Gilgal, Deus faz um pedido ímpar: eles deveriam se dirigir ao centro do país, mas precisamente aos montes Gerizim e Ebal, para fazer uma renovação da aliança com o SENHOR.

O curioso do pedido é que deveriam ir desarmados para o local. Desprovidos das armas, deveriam entrar no meio do território inimigo confiantes na proteção do SENHOR. Deveriam dirigir-se ao Monte Ebal que ficava a 30 km de Ai (tão perto da cidade destruída!). Imagino que estavam ansiosos por se estabelecerem no território prometido, que esta longa jornada seria uma grande provação. Teria você a confiança de entregar sua vida sob os cuidados de Deus?

Quando chegaram ao local indicado, se colocaram no meio de um vale que ficava entre os dois montes. O vale possuía uma largura de pouco mais de meio quilômetro. Era como um anfiteatro que abrigaria perfeitamente o grupo para realização de importante cerimônia.

Josué separa o grupo em duas partes, tendo ao centro a Arca da Aliança. O grupo que estava do lado do monte Gerizim (sul), ao serem lidas as Bençãos da Aliança, deveria responder com um sonoro amém. O mesmo aconteceria com o grupo que ficou do lado do Ebal (norte), porém, deveriam responder quando fossem pronunciadas as maldições. Antes de começar a cerimônia (v. 30), Josué ergue um altar no lado do Ebal. Surge então a curiosidade: porque deste lado? Seria o motivo o fato deste monte ter sido o primeiro lugar onde Abraão ergueu um altar na terra de Canaã? Seria uma boa resposta, porém, não te causa felicidade o fato de se erguer um altar, justo no monte onde seriam lidas as maldições?

No monte das maldições ergue-se então um altar de perdão. No meio dos erros, podemos estar certos de que existe uma oportunidade de perdão. Você já duvidou em algum momento de estar sob os cuidados de Deus por ter caminhado para longe de Sua vontade? Por ter feito algo que Ele te pediu que não fizesse? Por ter recusado insistentemente em obedecer? Saiba que no monte da desobediência existe um altar de perdão. Que a maldição pode ser o resultado de uma escolha errada, mas no meio dos erros, existe uma mão estendida. Uma oferta de perdão. Uma nova oportunidade.

Se você que está lendo esta meditação, se sente um(a) estrangeiro (a) no meio do povo de Deus por não freqüentar uma igreja, saiba que existe um lugar especial para você debaixo da proteção infinita de Deus. No verso 35 descobrimos esta verdade. Todos deveriam conhecer a vontade de Deus para as suas vidas (descrita na aliança). Inclusive os estrangeiros que estavam por ali. Ao destruir a cidade de Jericó, uma família se uniu ao povo na terra de Canaã. Era Raabe. O livro de Josué insiste em dizer que era uma prostituta, e isso não acontece por preconceito, mas para que seja exaltado o perdão, a misericórdia de Deus, que poderia alcançar a qualquer pessoa. Raabe e sua família tinham direito de participar da aliança com Deus, e não somente isto, por meio desta família, suscitou Deus um dos maiores personagens do Antigo Testamento: DAVI. Mas as bençãos não terminam por aí, Raabe vai ser lembrada mais tarde, não pelos seus erros, mas por pertencer a linhagem do próprio Jesus. Além de perdoar, Deus oferece uma nova oportunidade.

Não importa o que você haja feito, os caminhos que passou, não importa se você cometeu um erro que o envergonha muito, não importa se você magoou pessoas queridas. Existe um lugar para você junto do povo de Deus! Uma oportunidade de salvação e perdão. Estaria disposto a aceitar esta oportunidade?

Poema da primavera



A chegada da primavera é o tema abordado por Salomão a partir do verso 10 do capítulo 2 de Cantares. A primavera marcava em primeiro lugar o fim do inverno, um período difícil, para os homens e a natureza. Esta mudança estava passando despercebida pela esposa. A chegada da primavera não poderia ser ofuscada pelos problemas do inverno, o esposo diz: “levanta-te”. Ela estava prostrada, o inverno pode trazer dúvidas, desânimo, depressão. O problema do inverno não é o frio, mas a falta de luz. Outro convite do esposo seria para que ela se movimentasse, ele diz: “Vem”. É um convite para sair da paralisia, é chegada à primavera!

O esposo estava próximo, atento ao que estava passando a esposa. Embora o inverno e suas dificuldades tornassem as coisas mais difíceis, ela não poderia duvidar que o esposo estivesse ali, “é tempo de cantarem as aves”, outra possível tradução seria: é tempo da poda. Tempo de cuidar, tempo de estar atento, tempo de buscar, é primavera e o convite é para movimento.

A tórtola (rola) anunciava com seu canto as boas novas. Esta ave migratória entoava seu cântico ao princípio da estação das flores. Outra indicação da mudança eram os figos. Os primeiros já surgiam. Sua doçura era a prova de que novos tempos chegaram. Estes já eram motivos para que a esposa reagisse. Porém o marido insiste mais uma vez. Agora ele utiliza a pomba como símbolo. A pomba das rochas, ave que escolhia lugares distantes para descansar. Escondida entre as rochas.

Este fundo poético pode ser o bastante para o nosso deleite nos versos de cantares. Porém o livro é mais do que isso. Ele nos remete ao amor do esposo da igreja (Cristo). A aplicação comum que se faz do livro, é o relacionamento da igreja com Cristo. Quando fazemos esta aplicação, descobrimos muito mais cores e flores nos versos.

O inverno é o tempo da falta de luminosidade. Outro dia li um pensamento de Einstein que quando foi perguntado para dar uma definição sobre a luz, sua resposta foi surpreendente: “a luz é a sombra de Deus”. Espantou-me a profundidade do tema abordado pelo importante cientista. Ele entende que até mesmo Sua sombra, a sombra de Deus, estaria repleta de luminosidade. Terminou o inverno, é tempo de ver a luz. O desespero da vida sem Deus precisa ter fim. É o convite do Esposo, passar para um novo sentido de relacionamento, a luz da presença de Deus nos espera. E “levanta-te” é o convite!

O Esposo insiste em ressaltar a beleza da esposa, essa é uma das qualidades que mais aprecio no ministério de Cristo. Sua capacidade de ver o potencial das pessoas. Ele olhava para Maria Madalena e conseguia ver tudo o que ela poderia se tornar, se seu coração estivesse aberto. Foi assim com o jovem rico. Cristo o amou e fez o mesmo convite: “vem”. É um símbolo de uma passagem, chega de inverno! É tempo da primavera.

Na parte religiosa do povo de Israel, havia um significado importante para o período da primavera. A festa mais importante para eles acontecia no início do período: a Páscoa. Tempo de perdão. Se no inverno o tempo estava marcado pela falta da luz, falta de relacionamento, falta de contato, a primavera trazia a esperança do perdão. A renovação da natureza era uma boa metáfora para a renovação da vida da esposa de Cristo. A misericórdia estava à disposição, a graça estava a seu alcance.

Dois símbolos surgem em questão que têm relação direta com a páscoa.

a) A Tórtola (rola)

b) A Pomba das Rochas

Ambos os animais estavam relacionados com o serviço de sacrifício. Levíticos 1:14 nos relata: “Se a sua oferta ao SENHOR for holocausto de aves, trará sua oferta de rolas ou de pombinhos.” As ofertas queimadas ao senhor eram voluntárias (assim como aceitar o chamado do Esposo), e representavam uma consagração total do indivíduo a Deus. Estavam envolvidos três símbolos importantes nesses sacrifícios: fogo (purificação), água (batismo) e sangue (aceitação do substituto). As duas aves podem ensinar mensagens diferentes para nós.

Mensagem de esperança (tórtola): esta ave migratória trazia em seu canto o anúncio do início da primavera. Tempo de perdão, tempo de luz. O esposo chama para uma vida melhor. A esposa precisa levantar-se.

Mensagem de modéstia (pomba): a pomba e sua reclusão nos ensinam da modéstia, humildade e simplicidade que devem ser a experiência da esposa diante do esposo.

As duas aves serviam como sacrifício para os pobres. Era um sinal de que Deus estava preocupado com o coração em primeiro lugar. Os grandes sacrifícios e os mais simples estavam, sobretudo, na mesma condição. O sangue de animais, sua morte, não resolvia o problema dos pecados, mas, apontavam para quem poderia resolver.

A Páscoa apontava para um Deus que “passava por alto” (significado do nome páscoa) pela porta dos fiéis no Egito, salvando assim os primogênitos do Seu povo. O chamado do esposo celestial, em primeiro lugar, aponta para um Deus disposto a perdoar. A oferecer uma nova oportunidade (primavera). O texto apresenta o convite para apreciar a beleza de um novo tempo. Quem sabe este convite pode estar sendo oferecido para cada um de nós.

Levanta-te! Vem!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A BRECHA



Logo depois de ter sido proclamado rei em Hebrom (capítulo 12), Davi deseja trazer a arca de volta para Jerusalém. A Arca havia sido tomada pelos Filisteus e colocada na casa de Dagom em Asdode (1 Samuel 5). Ela permanece 7 meses entre este povo. Como a presença da Arca atormentava trazia medo, já que, o Deus dos Hebreus se mostrava superior aos deuses locais. Em 1 Samuel 6:7 diz que os Filisteus fizeram um carro novo para o transporte da Arca. O motivo para trazer de volta este símbolo nacional está explícito no verso 3 de 1 Cônicas 13: “porque nos dias de Saul não nos valemos dela”. A arca era um símbolo da presença de Deus e seus cuidados sobre o povo Hebreu ao entrar na terra prometida. Ela havia sido usada anteriormente como um amuleto de guerra, agora Davi, queria restituí-la a seu verdadeiro propósito.

Claramente, e como revelação de sua capacidade de liderança, Davi deseja que este seja um evento nacional. Compartilhado por todos. O sonho de Davi deveria ser o sonho do povo também. Vemos isso através da quantidade de vezes no capítulo que se repete a palavra “toda/todos/todo” (8 vezes). Era justo que eles fizessem isto. Todos concordaram. A partir do verso 5, Davi reúne cerca de 30 mil homens para organizar o cortejo de 14 km de Quiriate-Jearim a cidade de Davi (Jerusalém).

Davi copia a idéia dos filisteus e coloca a arca em um carro novo. A orientação era bem clara, em Números 4:4-15 e 7:9 deixa a orientação de que ela deveria ser levada pelos Coatitas. A Arca estava na casa de Abinadabe e foi retirada dali com o auxílio de Aiô (que dirigia o carro) e Uzá que acompanhava o carro (Ambos filhos de Abinadabe). O cortejo foi seguido por um espírito de alegria como relata o verso. Porém o verbo utilizado na passagem está em Piel o que dá uma conotação de diversão ou brincadeira. Aparentemente havia uma falta de reverência neste “alegrar-se”. No mesmo verso, logo em seguida, é apresentado uma série de instrumentos que acompanhavam o cortejo. Dentre eles o “tamborim” que era um dos instrumentos de percussão mais comum. Eram usados por mulheres no contexto de diversão. O mais importante sobre o instrumento é que não é mencionado como instrumento de adoração no templo. A idéia de diversão ou até mesmo de uma certa irreverência ao objeto que estavam levando, ou até, a presença de Deus, pode ser notada nos detalhes aqui mencionados.

Porém o momento marcante deste desastrado esforço foi o momento em que, por algum problema com os bois, o carro balança e com a preocupação de que a arca poderia cair, Uzá estende a mão para segurar a Arca. Imediatamente este homem foi morto. Uzá talvez estivesse passando por uma doença espiritual que afeta os cristãos modernos. O fato da Arca ter passado tantos anos em sua casa, fez com que ele se tornasse tão familiarizado com o objeto, que para ele seria normal o toque. Não passam os cristãos por uma crise de familiaridade com as coisas de Deus, a tal ponto que, eles sintam liberdade para se aproximar das coisas de Deus sem o cuidado devido. Será que cristãos não estão confundidos com a definição do que é sagrado e do que é profano. Não estamos “acostumados” com o templo de tal forma que nos sentimos muito a vontade lá? Estas são perguntas a serem respondidas. Davi confessa (15:13) que “não buscamos, segundo nos fora ordenado.” Quando fica triste com o acontecido, ele dá ao nome ao local do incidente de Perez-Uzá (brecha de Uzá). Será que o povo de Deus não tem criado muitas brechas em todos os sentidos que nos levam a realizar a nossa adoração ou vida fora do que Deus nos tem ordenado?

É uma situação a se pensar.

OBRAS DA LEI


Eu sempre digo que o livro de Romanos e Gálatas são primos. Romanos pode ser considerado uma ampliação de Gálatas, porém, porque o apóstolo não enviou a mesma carta aos romanos? Não pouparia o trabalho? Existe uma diferença e podemos definir esta diferença da seguinte forma:
Romanos responde a pergunta: como podemos ser salvos?
Gálatas responde a pergunta: Então, por que a lei? (se nós somos salvos por meio da fé, por que a lei foi dada ao homem?
Este é o assunto principal do livro de gálatas. O problema é identificado logo no primeiro capítulo:
Galatas 1
6 Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho;
7 O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.
Repararam a repetição da palavra "outro"?
O outro do verso 6 é a palavra "heteros" (outro diferente), já o outro do verso 7 é a palavra "allos" (outro igual). Paulo diz na verdade que eles estavam passando de um evangelho que não tem nada a ver com o evangelho de Cristo, e (v. 7) não é nem um outro parecido, é muito diferente.
Vamos estudar sobre o tema das obras da lei com esta explicação em mente e um pouco de história dos judeus.
Havia duas escolas rabínicas (uma mais radical) SHAMAI dizia que se você não alcançar 99% de justiça, já fracassou.
HILLEL dizia que se alcançar 50% mais 1% de justiça você já alcançou o objetivo. A escola de Hillel prevaleceu. Este mestre tinha um neto chamado Gamaliel I. este foi o professor de Paulo. Quando Paulo, se apresentando na carta aos Filipenses, diz de si mesmo "...quanto a justiça da lei, irrepreensível..." ele está pensando ou utilizando o pensamento desta escola.
A idéia destes homens seria que: quanto mais eles conseguissem realizar ou obedecer os mandamentos, eles estariam acumulando méritos que ao Deus comparar com suas transgressões, estas seriam superadas pelas "obras da lei" que eles realizavam. No caso de um povo que acumulasse muitos méritos, eles poderiam transferi-los para a sua posteridade, um princípio chamado "a justiça dos pais". Então neste pensamento, a misericórdia de Deus era adicionada aos méritos daquele judeu, sem o qual ele não poderia alcançar a salvação.
Este era o problema encontrado por Paulo.
Atos 15:1
Alguns indivíduos que desceram da judéia ensinavam aos irmãos: - Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos." Para os judeus a salvação estava restrita ao "povo do concerto", e a circuncisão era a "porta do concerto". Certamente era isto que paulo tinha em mente quando escreveu que "uma pessoa não é justificada por obras da lei" (Gálatas 2:16)
CUIDADO:
Quando encontramos uma pessoa que se esforça para obedecer a lei de Deus pensamos: - Este irmão é legalista! Muitos acham isto, porém, obediência por si só não é legalismo. Pensar que a sua obediência pode ajudar no processo de salvação é que podemos chamar de legalismo.
Estas foram algumas idéias que gostaria de passar para vocês sobre o tema das "obras da lei", que iremos nos deparar ao estudar a lição deste trimestre.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O toque de Jesus

Marcos 1
No verso 39 encontramos o relato da primeira viagem missionária de Jesus pela Galiléia (possivelmente no ano 29 D.C.). Nos escritos de Josefo (grande historiador), são mencionados mais de 200 povoados e aldeias na Galiléia. Era uma grande seara para o trabalho do mestre. O relato da cura (v.v. 40-45) do leproso faz parte deste contexto.
A lepra era, segundo o conceito dos judeus, um castigo por causa do pecado. Pensando assim, entendemos que tentar mudar esta condição, seria agir contra os decretos divinos. Alguns lançavam pedras para manter os leprosos a uma distância segura. Os doentes viviam em colônias fora das cidades. Deveriam avisar, gritando, que se aproximavam de locais onde poderiam encontrar outras pessoas. Talvez o maior de todos os problemas decorrentes da enfermidade, seria a exclusão do doente da participação de qualquer programa espiritual da comunidade.
Três grandes obstáculos serviriam de impedimento para que o homem se aproximasse de Jesus:

a) Não havia registros de cura da doença desde os tempos de Eliseu (8 séculos antes);
b) O problema da doença ser vista como uma maldição divina;
c) A dificuldade de se aproximar de Jesus.

Ao estudar sobre o ministério de Jesus, aprendemos que as pessoas não se perdem porque são ruins, por não praticarem o bem. Elas se perdiam por não buscarem a Jesus. A resposta para as pessoas que se desesperam por sua condição, seu caráter, personalidade, etc. Podem encontrar resposta ao se aproximarem dEle. E foi isso o que fez o leproso. o verso 40 diz que ele se "aproximou". Era o que Jesus estava esperando. É a parte do homem.
Seu pedido foi: "Se queres, pode purificar-me". Sabe quando oramos: "Se for da tua vontade...". Este relato mostra que é da vontade de Deus socorrer seus filhos. A pergunta não aponta para dúvida quanto se Ele pode fazer, se tem poder para isto, mas se é da Sua vontade. Se ele queria fazer. Porém o que chama a atenção, é o fato do homem ter pedido purificação e não cura. Entendo que sua ansiedade era por estar curado, mas isto automaticamente implicaria em voltar a participar da vida espiritual da comunidade. Era algo além que uma simples cura.
O verso 41 nos aprofunda no acontecido dizendo que Jesus foi "profundamente compadecido", por ver a cena do leproso ajoelhado diante de si. É impossível estudar o ministério de Cristo sem perceber que sua presença envolvia uma atmosfera de "Amor e poder". Ele não foi infectado pela doença, ma foi afetado pela condição do homem. Nós sofremos hoje por causa das doenças espirituais modernas. Quem sabe o senhor não está profundamente compadecido com a situação dos jovens em meio as drogas, se perdendo em um estilo de vida sem limites na internet, trocando sua dignidade para participar de um grupo ou até mesmo para manter um namorado.
Mas Ele "estende a mão". Quão significativo é este gesto! Era utilizado para a oração da cura, para abençoar. Como Cristo deseja atender nossas enfermidades espirituais, quem sabe ele não está estendendo sua mão sobre você neste momento em que lê esta meditação?
Agora ele toca o leproso. Se não bastasse seus sentimentos, estender a mão, agora Ele o toca. Isto significa envolvimento. O Filho de Deus está tão envolvido com a raça humana, ao ponto de encarnar neste mundo para tocar-nos. Pode você sentir este toque? Este desejo de envolver-se com você? Isto para mim é tão forte, já que Ele toca o homem antes de pronunciar o decreto de cura. Antes que a cura acontecesse, Ele já havia se envolvido com o homem.
Não espere que seu coração reaja para que, só então, você se aproxime de Jesus. Faça como este homem. Clame de joelhos pela cura. Ele espera ansioso por isto.
Deus abençoe!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Agapao: O amor que restaura


I Pedro 4:8

Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.

Algumas dificuldades podem aparecer ao tentar entender este texto (aliás, como existem pessoas que encontram dificuldades).

Ao analisar o verso, logo a princípio, podemos destacar que o apóstolo adverte que “sobretudo”, ou seja, antes de tudo, o amor deve ser a prova suprema do cristianismo, deve estar presente em nossas relações. Ele continua dizendo que “tende” ou melhor, segue/continua tendo este amor. Sua pressuposição é a de que os cristãos já possuem este sentimento em suas relações. O cristianismo sem amor não “funciona”. Talvez Pedro tenha nos indicado que esta deve ser a nossa preocupação quanto a nossa experiência religiosa. Antes de tudo, ame. Um amor ardente, que não conhece limite. Ele une os homens diferentes, em uma relação sadia. Não há problemas que a igreja não possa resolver, quando existe esta atmosfera de amor inteligente e abnegado.

Nesta passagem Pedro cita Provérbios 10:12. Onde o amor está escasso, existe uma facilidade em se exaltar os erros e fracassos dos outros. Onde o amor reina, a empatia, compaixão, o perdão, são forças ativas para cuidar dos relacionamentos. Este espírito atrai a atenção dos incrédulos, que se alegram em ver diferença na relação entre os crentes. Mas ainda pode incomodar a expressão “Cobrirá” (Gr. Kalúpt). Para alguns, a dificuldade para entender este termos se dá, no fato de que cobrir parece ser uma ação divina paliativa. Empurrar a sujeira para baixo do tapete. Nós podemos entender o cobrir descrito por Pedro, quando, com o auxílio da Septuaginta (Antigo Testamento em Grego), descobrimos que Davi relata sobre esta experiência no Salmo 32 (Salmo 31 na Septuaginta). A idéia de Davi, quando fala em Deus cobrindo os pecados, de um pecador que não terá que enfrentar suas faltas. Fala de um Deus que toma a frente da situação. Ele dá a resposta para as exigências de Sua própria lei. É impressionante como no verso 5, Davi confessa que tentou encobrir seu pecado, e esta foi a experiência mais triste que já teve. Sua experiência toma uma nova força quando ele permite que Deus tome esta atitude. O sangue de nosso Senhor Jesus Cristo é a resposta para a nossa condição.

O amor cobre, não porque Deus quer esconder as faltas de seus filhos. Ele cobre, por assumir esta culpa. Porque não apagar então? Por causa de sua lei. Ele estaria indo contra sua própria pessoa fazendo assim. Este é o poder curativo do amor. Ele restaura.

Existe um bom número de palavras para o amor e amar em grego, as mais importantes são: phileo (a atração de pessoas entre si dentro e fora da família), stergo (amor entre pais e filhos), erao (amor com paixão, desejar, ansiar por) e agapao.

No judaísmo helenístico e rabínico, ágape/agapao ficou sendo o conceito central para descrever o relacionamento de Deus com o homem, e vice-versa. O amor do Senhor alcança seu povo no meio de suas aflições. A Torá é uma prova do amor de Deus: o fiel corresponde ao amor de Deus à medida em que obedece aos mandamentos, imita a compaixão zelosa de Deus, e permanece leal a Ele. No Novo Testamento, o amor é uma das idéias centrais que expressam a fé cristã. A atividade de Deus é o amor, que procura o amor recíproco do homem. Um crente é um pecador que é amado por Deus. Quando reconhece este fato, entra na esfera do amor de Deus. ele mesmo se torna amoroso.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Tempo determinado


Um filme é composto de milhares de cenas individuais, cada uma das quais transmite um sentido ao espectador; o sentido do filme todo, porém, só ficará evidente para nós no final da apresentação, embora tenhamos aprendido o sentido de cada cena individual. Assim também é na nossa vida. o sentido das coisas que acontecem conosco só nos será revelado no final. Este sentido final dependerá de nossa realização em cada cena de nosso filme. Existem duas possibilidades de entendimento deste filme:

a) tudo tem sentido
b) tudo é desprovido de sentido.
Para definirmos isso vamos recorrer ao sábio Rei Salomão: "TUDO tem o seu tempodeterminado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu." Eclesiastes 3:1
O português não colabora para entendermos bem o sentido do pensamento de Salomão. Duas palavras são utilizadas para tempo no idioma original: zeman (heb.) e 'et (heb.). Seus correspondentes no grego são as palavras Crónos e kairós. Crónos fala de um tempo em que o homem não pode intervir; nós envelhecemos e nada podemos fazer quanto a isso. Kairós no entanto, fala de um tempo em que o homem pode interagir com Deus. Existe uma oportunidade então em que deveríamos escolher fazer o melhor. Apesar de parecer sem sentido, o filme de nossa vida está sendo controlado por Deus. Ele está no comando. Ele é o diretor. E no mesmo capítulo nos é dito que "Tudo fez formoso em seu tempo" (v.11). O tempo de Deus é perfeito. Ele organiza o filme de forma perfeita, devemos aproveitar bem cada cena. O conselho seria então: conhece o seu tempo. Tome decisões de acordo com este conhecimento. Conhece seu tempo.
Pr. Moreira

A nova aliança


O livro de Jeremias, particularmente no capítulo 31 (versos 31 em diante), nos traz um bom entendimento do tema tratado por Jesus na "santa ceia". Esta explicação abre nossas mentes para entendermos sobre a "abolição da lei na cruz" e temas parecidos.
Jeremias fala sobre a quebra do pacto "cortado/feito" com o seu povo logo após sua saída do Egito. O esforço dos israelitas em obedecer o pacto por sua própria força teria sido inútil (31:32). Desta forma, o profeta apresenta uma "nova aliança" que iria substituir a aliança feita no sinai (31:31).
A pergunta que vem a mente em seguida seria: Mas como Deus poderia impedir a quebra desta nova aliança? A resposta é simples, e a encontramos numa combinação entre esta perícope e o texto de Ezequiel 36:26 e 27:
"26 E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.
27 E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis."

A nova aliança seria cumprida pela operação de Deus no ser humano por meio de seu Espírito Santo. Mas todas as alianças eram feitas por meio de acordo entre duas partes, como Deus iria fazer com o homem? A resposta é que Ele já fez. Encarnando, Jesus pode tomar nosso lugar diante da nova aliança. Ele é nosso Sacerdote (intercessor diante de Deus) e nossa oferta. A desobediência humana foi trocada pela obediência de Cristo.
Agora quanto a abolição da lei? A "nova aliança" apresentada por Cristo no novo testamento deve ser entendida de acordo com o texto de Jeremias, já que o profeta a prevê. E Jeremias não fala de abolição, mas, de aplicação pessoal da mesma por meio do Espírito, como vimos em Ezequiel. A lei de Deus é o retrato fiel de seu caráter, uma fotografia de seus princípios. Isto não pode mudar. Vemos textos como os de Gênesis 26:5 que citam a guarda de mandamentos antes do sinai. Gálatas 3:19 explica a função da lei do sinai de apontar o descendente (Cristo). O que surge então, seria uma lei que seria nova no sentido temporal, mas quanto ao momento de sua ratificação. Abraão foi salvo pela fé nesta ratificação (ver Romanos 4).
Podemos aprofundar o estudo e lembrar que Lúcifer foi expulso do céu por pecar contra Deus. O pecado só é levado em conta quando existe lei (Romanos 5:13). Houve claramente uma transgressão da lei no céu. A nova aliança vista deste ponto deveria ser entendida como mais antiga que a antiga aliança. Ela foi criada antes do sinai. Os patriarcas antes de Moisés conheciam a lei de Deus.
A lei não pode ser anulada pela graça, já que, a graça foi dada por causa da lei. Por nossa insuficiência em guardar seus requisitos. Se a lei pudesse ser abolida por Deus, a morte de Cristo perderia seu valor, já que, Sua morte se deu por causa desta impossibilidade (abolir a lei). O novo testamento fala sim de uma abolição. A abolição do pacto feito no sinai. Este pacto tinha tempo determinado. Agora, o que Deus requer de seus filhos, é muito maior que o pacto do sinai.
Podemos dizer como Paulo em romanos:
Romanos 7
"24 Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?
25 Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado."